sábado, 21 de abril de 2012

          Maldito mármore importado

Naquele dia quando despertei, achei que tudo seria como sempre “normal”, mas percebi que tudo estava de um jeito diferente, um cheiro diferente. Ainda pra piorar, a hora que acordei não era a mesma de antes, pois estava atrasada quase uma hora do horário de costume que havia colocado o relógio para despertar.
Imediatamente levantei-me e olhei para a porta do quarto e tive uma vontade incontrolável de verificar se estava trancada. Felizmente estava como deixei antes de deitar-me, que alívio.
Já que estava de pé e nada além pra fazer pra diminuir o prejuízo do atraso, resolvi ir ao banheiro e iniciar a jornada de batalhas: escovar meus lindos dentes para que brilhem e ofusquem a preguiça, lavar o rosto acompanhado de gotas fartas de ânimo para efetivamente acordar para a vida que estava batendo a porta.
Tranquilamente continuava executando as atividades diárias, quando de repente ouvi a campaninha da porta gritar nos meus delicados ouvidos que realmente meu dia estava estranhamente se iniciando de uma maneira bem incomum.
Enxuguei-me rapidamente, saí do banheiro e caminhei insegura até a porta para destrancar a única barreira que impedia a vida de me responder o motivo de tal transformação cotidiana.
Ao abrir a porta me deparei com uma cena “inexplicavelmente” que para muitos outros seria considerada anormal, mas que “explicavelmente” para mim era meio normal. Digo isso, pois vi um homem caído na soleira de mármore importado da minha porta e imediatamente corri o corredor com meu olhar observador e constatei que não havia mais ninguém naquele corredor tão sombrio e familiar.
Sem alternativa, me vi na obrigação de abaixar-me e tocar aquele homem abandonado com os dedos e o pior é que quando fiz isso já imaginava a verdadeira situação, mas mesmo assim segui adiante e, ao tocá-lo senti que seu corpo estava frio e rígido como os ponteiros do relógio que apontava o meu atraso para o trabalho naquele dia.
Apressadamente ao verificar que havia um despacho com um cadáver caído sobre a minha soleira de mármore importado, corri para o telefone e liguei para quem realmente poderia salvar meu dia de uma morte maior e de grande efeito na minha vida, chamei os policiais. Foi neste momento que tive a certeza do grande engano o meu pensar que o eles poderiam salvar meu dia, já que o do “outro” nada mais podiam fazer.
Infelizmente e incrivelmente eles chegaram aproximadamente uma hora depois do meu pedido de socorro e ainda tive que responder infinitas vezes a mesma sequência dos fatos ocorridos, primeiro para os policiais na delegacia e depois para o meu chefe no necrotério municipal onde trabalho.
O pior foi que o morto também estava lá, após algumas horas, aprontei-o, para ser velado pelos familiares, e eu que nem o conhecia havia feito tanto por ele e o defunto nada pode fazer por mim. Após o funeral, perdi meu emprego, não por ter chegado depois de cinco mortos que me esperaram para serem devidamente arrumados para a efetivação das suas mortes e, sim por ter dormido por alguns minutos sobre o mármore importado onde é colocado os cadáveres...”isso” meu chefe não perdoou.



                                                 Sezue Luciana Ikeda

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